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25.2.17

Ambientes criativos


Nota do dia da Rádio Hertz, nesta quarta-feira (dia 22 de fevereiro) e artigo de opinião no Jornal "O Cidade de Tomar", nesta sexta-feira (dia 24 de fevereiro)

O conceito já não é nada novo e quiçá, para alguns, é já uma permanente repetição. Falamos de ambientes criativos, aqueles onde as pessoas e as organizações cooperam para se desenvolverem, para somarem dois com dois e o resultado ser sempre um pouco mais do que quatro. Genericamente são assim, por exemplo, os espaços escolares, onde a transmissão de conhecimento cria valor.
Mas não só. Também a nova indústria, com elevada incorporação tecnológica, seja direta ou indiretamente, contribuem para aumentar o conceito de que partilhar saberes, experiências e abordagens, fomentando a discussão criativa, é sempre melhor que o secretismo, a sonegação de informação, a fuga ao natural confronto de ideias.
Portugal só há bem poucos anos, muito fruto dos espaços criativos fomentados pelas universidades e a cada vez maior expansão dos campus Universitários, com inúmeros alunos advindos de dezenas e dezenas de países, começou a integrar na sua forma de viver, os ambientes criativos.
Também as cidades que mais se abriram, fruto da sua localização estratégica ou intermodal, ou fruto de grandes necessidades de emprego – como as áreas metropolitanas, com o decurso dos anos, acabaram por favorecer a criação dee valor, através da perspetiva colaborativa, em lugar da anterior visão fechada, arquétipo da sociedade portuguesa do século passado.
Na nossa região, podemos ver por exemplo a diferença de vivência social e abordagem moderna, que a cidade do Entroncamento tem em relação às demais, muito fruto desse choque de fora para dentro e da sua crescente cosmopolização.
Os ambientes criativos são assim a essência do futuro, onde o saber e a experiência partilhada, convergem para ajudar a criar mais empregos, mais valor e também mais felicidade. Sociedades, empresas e grupos fechados, numa atitude de resistência à mudança, acabam, cedo ou tarde, por sucumbir, face ao choque com a realidade que, inevitavelmente, acabará por acontecer.
Uma parte de Tomar ainda resiste a este imput de ambiente criativo. Uma parte, diria mesmo, inexpectável, pois tendemos a ideologicamente olhar para a criação como uma atitude de esquerda e o imobilismo, para uma atitude de direita. Ora, também aqui os paradigmas começam a estar em profunda mutação. Cada vez mais as atitudes dos grupos ditos de esquerda, em Tomar, se caracterizam por um fechamento, um imobilismo, uma incapacidade de incorporar novas ideias, de aceitar e retirar conclusões das críticas, de construir colaborativamente, partilhando saber e com isso, melhorando a construção do devir. É estranho, não é?
Há quem diga que o tempo de escuridão contemplativa, desde que a Ordem de Cristo se fechou entre quatro paredes, moldou para sempre o destino de Tomar. Não creio que isso seja de todo verdade.
Não há hoje já quaisquer fronteiras entre economia e investigação e entre estas e a industria, os serviços às pessoas, a arte e o dia a dia, de cada uma das nossas cidades e aldeias. As atuais indústrias e serviços, no sec.XXI, envolvem todos e todas as tecnologias, e nesta revolução que está a acontecer, ganharam as cidades e os grupos que dentro delas mais rapidamente as integraram no seu modus operandi, no seu dia a dia. Na prevalência da transparência, da permanente exposição pública à crítica, ao prestar de contas, no fundo prevenindo assim o amiguismo, o chico-espertismo, portanto, prevenindo os constantes riscos de corrupção, os quais não se revestem, como bem sabemos, apenas os de índole financeira.
Tomar não se pode, aliás, não se deve alhear deste novo mundo, que já aí está. Senão será uma ilha, obscura e ultrapassada, votada por isso ao fracasso permanente. É isso que queremos? Penso que a resposta que quem lê estas linhas, é por demais óbvia: não!
No último ano, 50% dos novos empregos criados, foram-no por empresas com menos de 3 anos de vida e mais de 75% destes em empresas com 5 ou menos trabalhadores.
Para esta nova realidade, impõe-se que Tomar não esteja virada sobre si própria e, mesmo com cada vez mais cidadãos aposentados, a sua experiência, o seu tempo disponível, são uma mais valia que constitui um manancial brutal para o novo (atual) paradigma em que mais do que habilitações os empregadores, o futuro, exige habilidades, na sua expressão base do inglês, skils.
Sabendo nós que o conhecimento aumenta quando é partilhado, ganhará quem o souber fazer e não quem tiver medo de ser ultrapassado. Eu, por mim, sempre preferi rodear-me de quem soubesse mais do que eu, do que ser ou estar rodeado por uma eventual horda de seguidistas acéfalos.
É esse o ambiente criativo que, para o futuro de Tomar, se exige. No respeito pela opinião diversa, na sua aprendizagem, valorizando a disrupção, como estratégia para criar valor, aumentando a solidariedade e assim, voltando a acreditar na mudança necessária para o nosso Concelho.
Sabê-lo-emos fazer? Pois. Este é, meus amigos, o presente grande desafio:
O de pensar fora da caixa!

Pode ouvir aqui a nota do dia.